O MURO DE BELFAST

Confesso que quando programamos para conhecer Belfast, a primeira idéia que veio em mente foi o IRA (Exército Republicano Irlandês) e aqueles muros pintados pela cidade. Como em qualquer viagem, sempre se faz interessante ler um pouco sobre a história do país, mas Belfast tem um muro que separa as duas regiões da cidade. O lado católico e o protestante. Isso tornou a minha curiosidade ainda maior.

A Irlanda é uma ilha dividida em República da Irlanda ao Sul, católica, cuja capital é Dublin e a Irlanda do Norte, que tem Belfast como capital, com maioria protestante e que pertence ao Reino Unido. O conflito começou em meados de 1960, quando os católicos (nacionalistas), ligados à República da Irlanda, desejavam unir o sul e o norte, ao contrário dos protestantes (unionismo) que queriam permanecer unidos ao Reino Unido. Nesse espaço surgiu o IRA, que espalhou um banho de sangue, com dezenas de atentados à bomba, onde vários inocentes foram mortos.  Finalmente, em 1998, foi realizado o "Acordo de Belfast"ou "Acordo da Semana Santa", que diminuiu muito os conflitos e tornou a Irlanda do Norte ligada ao Reino Unido. Outro passo importante foi em 2002, com o desarmamento pelo IRA. 

Para conhecer a periferia de Belfast e outros pontos interessantes, sugiro um passeio nos simpáticos ônibus de turismo, onde é adquirido um ticket, que serve para 48 horas, embora aqui, 24 horas sejam mais que suficientes. 

O passeio pelo lado oeste da cidade, mais precisamente na Shakill Road (protestante) e a Falls Road (católica) é imperdível. Tudo aqui inspira um pouco de insegurança, como aquele algo estranho no ar… Os enormes muros com arame farpado no alto realmente impõe restrições imensas. Nas escolas, 96 % ou são católicos ou são protestantes e apenas 6% absorvem ambos. Os hospitais também praticam a segregação e até os cemitérios o fazem. Quem mora em um lado, nem de longe pensa em morar no outro. O centro, de onde apanhamos o ônibus, é uma área mista e realmente transmite mais segurança.

A área do muro é conhecida como linha da paz. Possui diversos caminhos para carros e pedestres mas, a noite, é restrito (fechado) e, se alguem passar de um lado a outro, assume o  próprio risco. Palavras de ordem ou pinturas fortes são constantes. Os muros estão programados para serem retirados em 2023, mas muita coisa ainda vai ser discutida, até porque são importantes atrações turísticas, podem acreditar.

As pinturas retratam todo o período conturbado da história. No lado protestante, figuras da família real britânica podem ser vistas, enquanto no lado católico, figuras do IRA e de revolucionários como Bobby Sandes, que morreu em greve de fome, são desenhadas nas fachadas das casas. 

Os conflitos existem até hoje. Recentemente, o governo (católico) resolveu que as bandeiras do Reino Unido não serão asteadas todos os dias no prédio da câmera, o que gerou protestos entre os protestantes. Ninguém sabe até quando isso vai durar, mas até lá vale a pena conhecer essa parte importante, todavia triste, da história de Belfast e da humanidade. Dois dias inteiros são suficientes na cidade.